terça-feira, 5 de agosto de 2014

A invisibilidade das lésbicas negras nos espaços lésbicos das redes sociais

           Meios digitais como o Facebook tem sido bastante úteis no que diz respeito a visibilidades e militâncias, e isso tem sido muito importante e empoderador nos diversos âmbitos políticos. Além de permitir a socialização de idéias, também é um espaço que permite agregar pessoas por suas afinidades políticas, permitindo a comunicação e a aproximação das mesmas, promovendo e enriquecendo o debate. Porém, é notório que neste espaço também há uma intensa reprodução de padrões excludentes, até mesmo nas páginas que se propõem a abordar as minorias e que buscam dar alguma visibilidade as categorias minoritárias, assim como combater os preconceitos e defender seus direitos. Estou falando aqui, especificamente, da grande parte das páginas lésbicas do Facebook, que procuram fazer pelas lésbicas o que as páginas destinadas às relações afetivas heterosexuais, não fazem pelo amor homo afetivo entre mulheres. Páginas estas que se propõem a combater a lesbofobia e defender os direitos da categoria mas que, por outro lado, reproduz padrões estéticos que excluem a diversidade lésbica em diversos âmbitos.

 
         Tempos atrás resolvi dar um rolê na internet com o propósito de ver como se dava a visibilidade das lésbicas negras nesses espaços digitais lésbicos e o que pude constatar foi uma imensa invisibilidade. Tempos depois, especificamente antes de escrever esse texto, fui pesquisar novamente sobre isso, agora vasculhando páginas mais populares, com mais de 20 mil seguidorxs, e vi que nada mudou. É bastante fácil perceber o mar de negação em que as lésbicas negras estão afogadas nos ambientes lésbicos do Facebook. Basta tirar um tempinho para passear por estes canais e perceber, no desenrolar da barra lateral, como fica transparecendo que todas as lésbicas são brancas, magras e elitizadas.

          A representação das pretas é pouco vista, e em algumas dessas vezes, é de forma bastante superficial. Notamos a presença delas algumas vezes quando esses espaços se propõem a falar sobre racismo, mas aí o que podemos observar é uma limitação em imagens de casais inter raciais lésbicos com descrições trabalhadas de uma forma tal qual “não seja racista, fique com uma negra” ou através de imagens isoladas, e raras, de casais afrocentrados. Fica restrito a poucos canais a preocupação com a questão estética e racial que não seja apenas branca, que não seja apenas magra e elitizada.

         A população lésbica não se compõe apenas por esses corpos eurocentricamente padronizados, muito menos acredito que das mais de 20. 000 pessoas que estão nesses espaços sejam, em sua totalidade, esses sujeitos. E porque tanta resistência com os corpos negros e gordos? Será que todas as lésbicas se sentem realmente representadas por essa padronização de corpos? Eu digo que não! Onde estão as lésbicas da terceira idade? As negras? As lésbicas da periferia? As lésbicas gordas? As cadeirantes? Elas não existem? Definitivamente, não há representação da diversidade lésbica!

           
             E o que acontece com essas mulheres que já são tão invisibilizadas, em tantos outros espaços, e quando buscam encontrar as suas semelhantes nesses espaços digitais e se deparam com essa negação alarmante de sua existência? Pontuando apenas uma de tantas, isso destrói a auto estima da pessoa que não consegue se ver como ser possível de existência, todas que não estão incluídas dentro deste padrão excludente de representatividade. É preciso entender que o fato de haver lésbicas brancas e magras nas paginas não é o problema, até porque elas também fazem parte da diversidade lésbica, o problema é achar que a comunidade lésbica se restringe apenas a essa representação, excluindo todas as outras e dar continuidade a reprodução de estereótipos que sabemos que oprime outras lésbicas de diversas formas.

            Se essa exclusão é algo tão facilmente notado nesses espaços virtuais, é porque existe fora dela, fora do meio digital. Trata-se, portanto, de um reflexo do que existe nos meios sociais fora da internet. É muito escuro ter a noção de o quanto que o padrão estético eurocêntrico, imposto às mulheres pelas estruturas sexistas, racistas e gordofóbicas do patriarcado, é internalizado e reproduzido também dentro da comunidade lésbica que, através da anulação da diversidade, visa um ideal lésbico que corresponda às expectativas que nada diferem daquilo que o sexismo fetichista, racista e gordofóbico entende pelo que são, e devem ser, as lésbicas. É preciso problematizar esses estereótipos e não reproduzi-los. Se estamos construindo esses espaços para que possamos nos sentir realmente representadas e visibilizadas, contemplar a diversidade lésbica é essencial para que possamos nos fortalecer realmente e alcançar os objetivos coletivos sem deixar nenhuma mulher para trás.


Sheu Nascimento.


fonte da imagem: Negra e lésbica/facebook

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